Sempre te
amei
Trenton Maxwell Tate,
era tudo o que uma garota podia sonhar! Alto, cabelos num corte displicente,
corpo bem definido... afinal, era o capitão do time de footbal da escola. Além
disso, fiel a seus amigos e contagiava todos a sua volta com seu bom humor. Ele
só tinha um defeito: era o namorado extremamente apaixonado de sua irmã mais
velha!
Blaire Campbell
tentou não se apaixonar por Trent, mas foi impossível, inevitável! Ela o vira
primeiro, contara para sua irmã de seu interesse por ele... Mas Erin era Erin!
E ela sempre queria tudo! E o pior, ela sempre conseguia tudo! Dessa forma,
Blaire guardou seu amor em seu coração e aceitou ser só a amiga dele...
Mas Trent, foi preso
por um assassinato, que ela sabia que ele era inocente e Erin lhe deu as
costas. Foi curtir sua vida, enquanto o namorado por quem se dizia tão
apaixonada, sofria numa prisão. O abandonara! Mas Blaire nunca o faria! Estaria lá para ele
por toda sua vida! Mesmo que em suas visitas ele insistisse em perguntar por
sua irmã...
Trenton viu sua vida
se tornar um pesadelo do dia para a noite. Para proteger sua irmã Michaella,
ele precisa fugir e leva-la para longe. Mas ela é ainda menor e essa fuga é
nossa única solução. Estão escondidos em um motel barato e ele tenta convencer
sua garota, aquela por quem é louco, a seguir com eles. No entanto Erin está
irredutível... não quer deixar sua família, seus amigos, sua vida confortável
para seguir sem rumo. Trent não sabe como irá viver sem o amor de sua vida, mas
também sabe que não pode mais ficar naquela cidade deixando Michaella correr
risco...
Além de tudo isso, o
namorado ciumento de sua irmã os encontra e entende tudo errado... Acontece que
o cara é um lutador e mesmo sendo um esportista, Trent não tem chance. Ferido, precisa
voltar para casa. E é quando a tragédia acontece. Ele não está totalmente
recuperado, quando um acidente o leva para a prisão. Agora sua irmã está
sozinha e Erin... bom, ela não quer ter seu nome associado ao de um assassino.
Seu único alento é
ver que sua irmã é forte o suficiente para se erguer-se, sempre está presente e
vive com o objetivo de tirá-lo da prisão... Sente-se culpada, mesmo ele dizendo
o contrário.
E tem Blaire. Sua
doce amiga Blaire. Quando Erin, a mulher que achou que poderia contar em todos
os momentos de sua vida o abandonou, ela foi seu apoio. É linda, delicada! A
visita mais frequente que tem na prisão. Fazia-lhe bem tê-la por perto. O
sorriso dela iluminava seu dia. Mas quando chorava por ele estar naquele
lugar... ele moveria céus e terra para retirar aquela dor de seus olhos.
Trent não vê a hora
de conseguir sua liberdade, para não ver lágrimas rolarem por sua face nunca
mais! E ele sente a necessidade de estar mais perto dela. De alguma forma, é em
Blaire e por Blaire que ele consegue manter sua sanidade e ainda sonhar com o
dia que irá sair daquele lugar maldito!
Precisa sentir melhor
o cheiro do corpo dela... o que o faz lembrar dos tímidos abraços que trocam
quando ela chega ou vai embora da penitenciaria. Ele acha que está enlouquecendo quando é ela,
não Erin seu último pensamento ao dormir toda noite...
1º
Capítulo
Esqueça, Blaire! Ele
não vai aparecer... Tentava se conformar. Trenton havia deixado o presídio
havia três dias, mas ainda não a procurara. Contivera com muito afinco o
impulso de correr até Martha’s Vineyard, onde ela imaginava que com certeza
seria o primeiro lugar onde ele iria, para ficar com sua irmã Michaella.
Mas ele nem ao menos
ligara... tinha o número dela. Dera a ele, caso precisasse de alguma coisa. Nunca
recebera essa ligação. Mesmo estando em uma maldita prisão, Trenton mantinha a
cabeça serena, não reclamava ou pedia algo.
A hipótese de que
pudesse ter ido em busca de Erin a tomou e trouxe um aperto ao seu coração. Por
que não faria isso? Perguntava-se, passando os dedos pelos cabelos, exasperada.
Era sua namorada na época em que fora preso. Ele nunca mais tocara no nome
dela. No entanto sabia que ainda era apaixonado por sua irmã. Mesmo que ela
nunca o tenha visitado. Não se podia
mandar no coração e a própria Blaire era uma amostra viva disso.
Suspirando, pegou a
xícara onde tomava um chá, de cima da mesinha de centro e levou-a para a
cozinha. Depositou-a na pia, espalmou suas mãos no mármore gelado e bufou.
Devia ligar? Mas para onde ligaria? Com certeza ele não tinha um aparelho
celular! Assim sendo, o certo seria ligar para Michaella...
Não! Definitivamente
não ligaria! Não podia sair correndo assim atrás dele! Se quisesse encontra-la,
não seria complicado. A irmã dele sabia sua direção. E, imagina ligar e
descobrir que ele não aparecera, por que correra para Nova Iorque atrás de
Erin? Não precisava disso!
Com essa decisão,
pegou o aparelho telefônico da parede e ligou para a pizzaria. Não era muito fã
de pizza de calabresa, mas se viu pedindo aquela... era o sabor que Trenton
mais gostava. A qual sempre pedia quando assistia a jogos na casa dela. Também
não era muito fã de footbol americano, Erin menos ainda, mas era um jeito de
passar um tempo ao lado dele. E às vezes até rolava um abraço de comemoração...
Ok, isso era patético, até para ela: mendigar abraços! Mas era muito bom quando
acontecia. Ficava com o cheiro dele em sua roupa por todo o dia.
Abriu uma garrafa de
vinho tinto e ergueu a taça num brinde solitário:
— A sua liberdade,
Trent! — murmurou.
A grande verdade era
que estava muito feliz com a soltura dele. Muito mesmo! Ainda que não a
procurasse por hora. E se ele não o fizesse, ela acabaria fazendo. Sempre fora assim, por que mudaria agora?
Estava em seu
terceiro e generoso gole quando a campainha soou, fazendo-a quase engasgar com
a bebida. Seria já a pizza? Bom, se fosse, estavam entregando em tempo recorde.
Vestia um legging
rosa e um blusão de lã marrom e meias brancas. Não ia se calçar só para atender
a porta!
Pegou a bolsa no
balcão e dela retirou sua carteira. A campainha soou de novo e ela gritou de
volta:
— Já estou indo!
Escancarou a porta,
já abrindo a carteira e dela já pegava a quantia que costumeiramente pagava
pela iguaria, enquanto dizia:
— O mesmo valor de
sempre?
— Hum, eu não sei...
depende de o que você quer comprar de mim!
A carteira dela
escorreu de suas mãos e ela deu um salto para trás. Depois levou as mãos aos
lábios e as lágrimas imediatamente subiram a seus olhos. Não era outro senão Trent parado a sua porta.
Tinha um sorriso no rosto e uma mochila num dos ombros.
No instante seguinte
estava voando para os braços abertos dele:
— Oh, meu Deus! Oh,
meu Deus! – se via repetindo junto, pendurada no pescoço dele! — É você!
Trent absorveu o cheiro
dos cabelos dela. Era muito bom! O mesmo que ficava impregnado nas narinas
dele, quando se despediam no presídio:
— Sim, sou eu,
Blaire!
Ela se afastou um
instante, tomando o rosto dele entre as mãos, os enormes olhos azuis
perscrutando sua face:
— Sim! É você! —
então o abraçava de novo.
Era muito bom ter
Blaire em seus braços, agora em liberdade. Podia desfrutar plenamente,
calmamente do afago. Aqueles breves momentos em que a tinha nos braços, eram o
que o relaxavam, toda noite, quando ia dormir. A imagem do rosto dela lhe
trazia a paz que precisava.
Porém, junte doze
anos sem uma mulher, e então ter aquelas curvas coladas ao seu corpo... Bom,
uma vergonhosa ereção não foi difícil de acontecer. Por isso, para não assustar
sua doce amiga, Trent manteve certa distancia. Por sorte, o jeans era bem
justo, segurando seu amiguinho no lugar. Blaire estava perto, os seios colados
ao seu peito. Um atentado a sua castidade forçada.
Então ela se
afastava, sem graça, enxugando as lágrimas e ele ajudou, correndo os polegares
por suas faces rosadas:
— Desculpe-me... eu
só... eu não esperava te ver... tão cedo!
Trent parou de
enxugar seu rosto e franziu o cenho:
— Como assim?
Achou... achou que eu não viria te ver? — parecia incrédulo.
Ela mordeu o lábio
inferior e começou a apertar os dedos, os estalando, os olhos enormes o
encarando:
— Bom, eu achei... —
melhor não citar Erin naquele momento — que desejasse passar um tempo com sua
irmã.
— Eu o fiz. Mas,
queria muito te ver!— disse suavemente, seus olhos pousando no ombro que a
blusa caída deixava nu. Seus níveis de testosterona deviam estar mesmo muito
altos, por que uma vontade insana de sentir o gosto daquela pele o assaltou,
fazendo seu pau quase arrebentar o zíper da calça. “Controle-se, homem! ”. Repreendia-se. Engoliu em seco, temendo que
ela notasse seu... bom, seu estado. Limpou a garganta, antes de falar, pois
senão, sua voz sairia rouca e falha — E fora daquele lugar!
O sorriso que foi
crescendo na face delicada, suas graciosas covinhas aparecendo, fazendo seu
coração e peito se inflar. Era tão linda!
Blaire suspirou e
deixou uma mão correr pelo peito dele. Era impressão dela, ou ele estava bem
malhado?
— É tão bom te ver sem
aquele... macacão laranja ridículo! — ela revirou os olhos — Eu nunca te disse,
mas você não fica bem com aquela cor!
Trent riu e olhou
para sua roupa:
— Fique tranquila! Eu
não pretendo usa-la nunca mais na minha vida! — afirmava.
Blaire sentiu as
lágrimas voltarem a seus olhos e correu para abraçar a cintura dele de novo,
recostando a cabeça em seu peito:
— Eu não acredito que
você está aqui! — sussurrou.
Ele também a envolvia
nos braços, deixando a mochila escorregar para o chão, encostando sua cabeça no
topo da cabeça dela:
— Eu precisava ver a garota
linda, que nunca me abandonou! — beijou a testa dela e foi descendo, pelo nariz
afilado e então acariciava sua face, com um sorriso tênue nos lábios.
Mas, então ela o
fitava, quase que com adoração. Sua boca bem feita, que aos poucos deixava de
sorrir e se entreabria. Os olhos se tornando nublados.
Viu-se dando um beijo
quase casto em seus lábios. E outro e outro. Então ela corria a língua por
eles, como se para absorver seu sabor. Trent não resistiu e, curvando a cabeça
de lado, tomando o rosto dela entre as mãos, beijou-a novamente. A princípio
eram beijos curtos, inseguros.
Então ela segurou
seus pulsos, a boca entreaberta, a sua espera. Trent não resistiu. Apossou-se
com gula, buscando sua língua, empurrando-a contra a parede ao lado da porta. Colocou
uma coxa entre as dela e já não fazia mais questão de esconder sua ereção.
Aprofundou ainda mais o beijo quando ela gemeu baixinho, arqueando os quadris
para ele.
Envolveu sua cintura,
absorvendo o gosto da boca dela, um misto de vinho e... Blaire. Era um sabor
único, com o qual sonhara noites seguidas. Sugou sua língua, depois a invadia e
ela fazia o mesmo com a sua.
Suas mãos desceram
para o bumbum macio, puxando-a, quase lhe tirando os pés do chão.
Porra! Estava a ponto
de explodir, como um maldito virgem! Bom, era como se o tivesse voltado a ser.
E, seria fácil despir aquela blusa dela, explorar os seios soltos, com suas
mãos, sua boca...
Mas, aquela era
Blaire. Devia conter sua tara!
Dessa forma, e, muito
contra a vontade, deixou os lábios dela, vagarosamente e encostou a testa na
dela de novo, ofegante:
— Me desculpe. Acho...
que me empolguei um pouco no cumprimento...
Blaire sorriu,
divertida, um tanto sem graça, baixando seu olhar, por um instante:
— Nós nos empolgamos!
Ela não parecia arrependida
do acontecido. Só um pouco tímida, talvez. Agora fitava sua boca com olhos semicerrados
e até deslizou o polegar por eles. Trent o sugou para dentro de sua boca,
fazendo-a prender e respiração. Ele o libertou lentamente, observando as
reações dela:
— Melhor não me
provocar, Blaire! — ameaçava baixinho — Lembre-se: estou há dozes anos sem uma
mulher.
Um novo gemido
abafado escapou dos lábios dela, eriçando os pelos de sua nuca:
— Uau! Doze anos! —
exclamou, também baixinho.
Ele riu da reação
dela:
—Como se você não
soubesse! Onde eu estava só tinha homens! E eu, com certeza absoluta, só gosto
de mulheres! — seus olhos baixaram para os seios, constatando que, de fato ela
não usava sutiã. Notou que os mamilos se tornaram ainda mais visíveis sob seu olhar.
Teve de conter a muito custo, o ímpeto de tocá-los com seus dedos e depois os
provar com a boca.
— Você deve estar...
— Sedento? —
completou por ela e então sorriu de lado — É... um pouco! Na verdade muito! —
se corrigia, revirando os olhos.
Blaire queria se
beliscar para ter certeza de que era mesmo Trent, diante dela olhando-a como
uma presa que adoraria saborear. Ah, se ele tentasse! Com certeza absoluta no
mundo, não se oporia. O beijo que haviam trocado! Fora um sonho! Fez toda a
espera valer a pena. Mas ela queria mais.
Tocou a face dele, o
corpo muito próximo:
— Pobrezinho! —
mordendo o lábio, os olhos baixos, sugestivos.
Trent prendeu a
respiração. Afastou as mãos dela com delicadeza e deu dois passos atrás, até
estar andando pela sala:
— Oh, Blaire! Não me
olhe assim! — depois que já estava a certa distancia dela, cruzou os dedos
atrás da nuca — Não sou de ferro, garota! E, eu acabei de sair daquela jaula!
Estamos com muitas saudades um do outro...
Blaire o olhou de
soslaio, franzindo a testa:
— O que quero dizer,
é que tenho medo de que estejamos misturando as coisas. Não quero estragar a
amizade temos, entende?
Ela riu e abaixou-se
para recolher sua carteira do chão, para que ele não visse a pontada de decepção
que brilhava em seus olhos. Parecia que voltara ao posto de amiga!
— Fique tranquilo,
Trent! — então dava de ombro, de forma graciosa e sensual — Eu não vou atacar
você!
Agora era ele quem
ria, baixinho, rouco, espalmando as mãos na cintura:
— Meu medo é
justamente do contrário, grandes olhos azuis!
— Hey, eu estou
tentando me controlar e você diz isso?
Ele comprimiu os lábios,
despindo a jaqueta jeans, dobrou-a e a colocou na poltrona ao lado:
— Ok! Não digo mais
nada... por enquanto.
— Então, — ela se
sentava e indicava o lugar a seu lado no sofá para que ele se acomodasse —
falemos de amenidades. Como está sendo esses dias, aqui fora?
Ele ficou pensativo:
— Olha...assustador,
seria a palavra! Depois de tanto tempo de prisão, é estranho ter sua liberdade
de volta. Acredite, eu ainda estou tentando me acostumar com a ideia... de que sou um homem livre!
Os olhos de Blaire se
turvaram novamente. Quando pensava em tudo o que ele havia passado, pagando por
um crime que não era culpado! Ela segurou a mão dele e a apertou:
— Eu posso imaginar!
Mas, estou aqui e sempre poderá contar comigo!
— Eu sei disso,
Blaire! — dizia, agradecido — Se uma coisa da qual eu tenho certeza nesse
mundo, é que posso contar com Michaella e você!
Ele sorriu e então retirava
o celular do bolso frontal de sua calça, tendo de fazer umas manobras com seu
corpo para isso. Os olhos dela passearam por suas coxas fortes... e um pouco
mais para cima. Parece que ainda não havia... se acalmado de todo. Blaire teve
de morder o lábio, bem forte, para conter seu desejo de pular no colo dele.
— E tem isso aqui! Um
verdadeiro bicho de se te cabeças para mim! Um celular moderno que Michaella me
deu — mostrava o aparelho — Eu confesso que ainda estou apanhando muito com
ele! Faz de tudo, inclusive ligações!
Ela riu:
— Você aprende
rápido, vai ver. E, como foi voltar para sua cidade?
Trent suspirou. O
braço dela estava estendido no encosto do sofá. Ele ergueu o seu, alcançou a
mão dela e infiltrou seus dedos sob a blusa dela, acariciando seu braço,
distribuindo arrepios pelo corpo dela.
— Não foi fácil! Cada
canto tinha uma lembrança... de algo que eu não gostaria de recordar.
Blaire se perguntou
se Erin era uma delas.
— Que merda!
— E, por isso, eu
decidi que definitivamente não quero voltar a viver em Martha’s!
— E para onde pensa
ir?
Trent olhou a volta,
pensativo:
— Eu não sei! O que
me diz de Boston? — sugeria.
Um sorriso largo
surgia na boca rosada e seus olhos brilharam. Porra, ela era linda! A vontade
de a beijar o assaltou de novo, com força.
— Está pensando em
vir para cá? — “Eu amaria!” Poderia
ter dito — Bom, eu amo esse lugar! Aqui eu fiz o meu futuro, com minha
confeitaria. Oportunidades para você não faltaram!
— Bom, isso é um
ponto questionável... — ele dizia, uma mão coçando a nuca — Lembre-se que eu...
não tenho formação em nada!
Blaire sentiu o
coração se apertar. Recordou-se que ele pretendia iniciar a faculdade de
fisioterapia, anos atrás, se não fosse... toda aquela desgraça.
— É... isso... — teve
de limpar a garganta, para que sua voz não soasse trêmula — complica um pouco
mais.
— Ella me deu uma
quantia, digamos... muito boa! É o dinheiro que o advogado roubou dela, todos
esses anos — notou que ele contraia o maxilar — Quando penso nisso... — fechava
os olhos e respirava fundo.
— Eu soube! Sua irmã
me contou, num telefonema. Se eu encontrar esse advogado na minha frente, eu
chuto as bolas dele!
— Eu as arrancaria! —
ele balbuciou, entredentes.
Nesse instante a
campainha soou. Blaire pulou do sofá, batendo palmas:
— Eu acho que é algo
do que você pode gostar muito!
Trent franziu o
cenho, confuso.
— Espere bem aqui! —
indicava, recuperando sua carteira e indo rumo a porta.
Logo voltava com a
caixa de pizza e o cheiro tomava o lugar:
— Eu não sei se você
já teve um encontro com uma dessas desde que voltou, mas eu adoraria que sua
primeira vez fosse comigo! — dizia, erguendo a tampa e movendo suas grossas
sobrancelhas repetidamente de forma sugestiva..
— Bom Deus! — Trent
se colocava de pé, esfregando as mãos — Eu estou salivando aqui! E, não, eu não
tinha experimentado uma dessas, desde que sai!
— É isso aí, cara! —
Blaire depositou a caixa na mesa e foi buscar pratos e talheres — Eu não tenho
cervejas, mas tenho um ótimo vinho — apontava para a garrafa esquecida sobre o
balcão — Que acha?
— Que vinho está
perfeito! — ele alcançou os pratos os serviu e aguardou por ela.
Assim que Blaire se
aproximou, lhe estendeu a garrafa de vinho e taças que ele encheu. Depois,
Trent puxou a cadeira para que se sentasse. No entanto, antes que pudesse
provar do líquido, ela ergueu sua taça:
— A sua liberdade,
Trent! — ela repetia o brinde de momentos atrás, agora com um sorriso nos
lábios.
Ele lhe endereçou uma
piscadela rápida e tocou com seu copo no dela e provou enfim do liquido escuro:
— Bom? — ela
perguntava.
— Muito bom! — agora,
dispensando os talheres, ele pegou seu pedaço de pizza do prato e deu uma
generosa mordida e em seguida fechou os olhos, gemendo de deleite.
Aquele som... fez com
que Blaire prendesse a respiração por alguns segundos. Era um som
deliciosamente sexy[PR1] .
Ela esqueceu-se de
comer, observando-o. Ele atacava a massa com gula, mas de um jeito másculo, o
corpo grande curvado sobre a mesa, soltando pequenos grunhidos ao mastigar. Não
conteve um sorriso.
Trent a encarou e
levou um guardanapo a boca, meio constrangido:
— Desculpe por meus
modos! Devo parecer um animal, atacando a comida dessa forma!
— Que nada! Estou
feliz que esteja apreciando — enfim provava e sua pizza.
Comeram em silencio
por alguns minutos. Mas, então, ela não pode conter a curiosidade:
— Você viu Erin?
Arrependeu-se da
pergunta logo em seguida. Não sabia nem por que aquilo havia escapado de sua
boca! Ele fechou o cenho, tomando um longo gole de seu vinho:
— Por que eu o faria?
— Bom... ela foi sua
garota... — baixava a cabeça.
— Ela nunca me
visitou! — dizia de forma dura — Ela deixou de ser... qualquer coisa para mim,
no momento em que fui preso! — sua frase terminou com amargura.
Trent estava
tentando, duramente não pensar em sua ex. Ela não era digna de seus
pensamentos. Em doze longos anos de distância, Erin nunca, nenhuma única vez
sequer, tentara fazer qualquer tipo de contato. Fora um duro golpe. Era louco
por ela! Sonhava se casar com a garota! Não foi fácil aceitar sua rejeição e
esquecê-la... Não sabia como se portaria, se um dia a reencontrasse. A magoa
que ainda sentia, era grande. Mas, temia sua reação a presença dela. Erin tivera
um grande poder sobre ele, no passado. Não seria justo sucumbir de novo. Por
tal razão, não fazia questão alguma de vê-la.
— Como ela está? —
viu-se perguntando, contra gosto.
Blaire limpou a
garganta, esfregando as mãos sobre o colo:
— Está bem... eu acho.
Não temos muito contato também. Ela está em Nova Iorque, tentando a carreira de
modelo.
— Entendo...
Erin devia continuar
tão bonita quanto se lembrava. Tinha um rosto de boneca e um corpo feito para o
pecado. Sexo nunca fora um problema entre eles. Ela era quente, insaciável,
destemida. Quando queria sexo, não havia o que pudesse impedi-la. Fosse no
banco de trás do carro, na beira da estrada, num trocador de uma loja,
cinema...
Ele meneou a cabeça.
Maldição! Por que estava pensando tudo aquilo, justo agora? E ainda mais, na
presença de Blaire?
— Me perdoe por
trazê-la à tona! — sua amiga se martirizava — Você não gostou! Foi uma idiotice
da minha parte...
— Tudo bem, Blaire! —
ele segurou sua mão sobre a mesa, apertando seus dedos — Esse assunto uma hora
surgiria.
Blaire forçou um
sorriso. Era muito óbvio que Trent, mesmo após todos aqueles anos, ainda era
afetado por sua irmã. Por fora tão imbecil de tocar no nome dela? Por que
precisava saber o que ele sentia pela ex! Sabia o quanto ele fora louco por
Erin. E, temia que se um dia houvesse um reencontro, ele esquece toda magoa
e... eles bem podiam voltar.
— Bom! — ele se
levantava, levando seu copo e prato para a pia — Minha visita já se estendeu
muito! E eu ainda preciso procurar por um hotel...
— Você não fez
reservas?
— Não. Eu vim do
aeroporto direto para cá — quando ela parou a seu lado, ele colocou alguns fios
de cabelo dela atrás de sua orelha, fitando-a com ternura — Eu queria mesmo te
ver!
E lá estavam as
covinhas que ele adorava! Não resistiu e as tocou com a ponta do polegar.
— Eu fico feliz com
isso! — Blaire corava — E, como agradecimento, eu posso te abrigar por essa
noite!
— Não precisa se
incomodar, Blaire...
— Não é incomodo! Não
posso deixar você solto a essa hora da noite, numa cidade que não conhece, com
o frio que está fazendo lá fora! Não tenho um quarto de hóspedes, mas meu sofá
é muito confortável... — ela indicava, do meio da sala.
Ele riu:
— Quem você fez
dormir aí?
— Ninguém, seu bobo!
Eu mesma já acabei adormecendo nele, depois de algumas maratonas de séries. E
sempre acordei inteira. Claro! — ela apontava para ele todo — Você é mais
grande que eu... Mas, creio que vá sobreviver.
— Bebê, depois de doze
anos dormindo naquilo que eles chamavam de cama no presídio, seu sofá vai me
parecer uma cama king size de luxo! Dormiria até no seu balcão ali! — apontava
para a cozinha.
O coração dela doía a
cada lembrança do lugar onde ele estivera nos últimos anos. Revirando os olhos,
caminhou para seu quarto:
— Ok. Eu vou pegar
cobertores, lençóis...
Logo ela retornava
carregada e Trent ficou a observá-la, quieto. Blaire era muito graciosa. Quando
adolescente, já era uma linda garota, com sua pela clara, grandes olhos azuis e
lábios cheios e rosados. Tinha um estilo largado na época, vestindo sempre
jeans e camisetas folgadas. Tanto que quando a viu num sumário biquíni, quando
chegou de surpresa num domingo na casa dos pais dela, em torno da piscina, ele
quase ficou em choque. Ela era magra, mas tinha curvas. Suas pernas eram
longas, torneadas, seios fartos para a idade dela... Tinha de admitir que a
imagem não lhe sairá mais da cabeça.
Quando ela o notou,
correu se cobrir, deixando a piscina. Parecia encabulada. Se ela imaginasse que
passara dias fantasiando com seu belo corpo... E por isso, a culpa o havia
tomado, por que era praticamente sua cunhada.
E ele era fiel e apaixonado por Erin. Mas nunca conseguira enxergar Blaire
da mesma maneira. Antes ela era uma amiga amorosa, carinhosa, que ele gostava
de ter a sua volta. Depois, se tornou uma bela garota a qual gostava de olhar.
— Agora você tem uma
confortável cama a sua espera! — dizia ela, ao terminar de forrar o sofá com um
lençol e posicionar o travesseiro — Ou mais ou menos isso — dava de ombros para
sua arrumação.
— Está ótimo, Blaire
— ele se acomodou numa poltrona para descalçar suas botas.
Encontrou um sorriso
doce no rosto bonito dela, que o fez caminhar até onde estava, parando bem
próximo. Ela levou uma mão ao seu rosto, parecendo emocionada:
— Estou tão feliz que
esteja aqui, Trent! Não pode imaginar o quanto! — e então depositava um beijo
suave me sua boca e se afastava — Espero que tenha uma boa noite...
Depois que ela entrou
em seu quarto, Trent deslizou a língua sobre os lábios. Desejava absorver o
sabor dela. Não podia negar que desejava mais beijos como o que trocaram a
momentos atrás, preferia desfrutar da cama dela, de seu belo corpo. Sentia
muita falta de um toque feminino e Blaire era perfeita para dar fim a sua
abstinência... Mas ela era Blaire, sua amiga, aquela que nunca a abandonara.
Nunca correria o risco de machuca-la, de qualquer forma!
Blaire se recostou na
porta fechada de seu quarto. O sorriso em seus lábios cada vez mais largo.
Trent estava livre!
Trent estava em seu apartamento e a beijara! Ele a beijara, como um homem beija
uma mulher! Oh, Deus, ela esperara tanto tempo por aquele beijo!
O ímpeto de abrir
aquela porta e se jogar novamente em seus braços era quase incontrolável. Mas,
precisava ter calma. Talvez sua chance estivesse chegando e ela não podia se
precipitar. Se ele ficasse em Boston, tudo ficaria mais fácil. E ela faria de
tudo para tê-lo só para ela. Seu amor por só havia crescido durante todos esses
anos. Não era inocente a ponto de achar que era retribuída. Por hora, Trent
estava apenas carente. E ela estaria por perto para... bom, para ajudá-lo nessa
questão. Sorriu, mordendo o lábio inferior, sentindo-se quente, os seios
doloridos, seu sexo úmido e sensível. Como o desejava! Mas, queria mais que o
corpo dele. Queria seu coração. Por isso, faria tudo do jeito certo e com
calma. Sem Erin por perto, sentia-se mais segura de que conquistaria o amor de
Trenton Maxwell Tate!
2 Capítulo
Blaire acordou na
madrugada com a impressão de que ouvira gritos. Abriu os olhos e ficou atenta.
Podia ter sido um sonho...
Mas o grito agoniado
se repetiu. E outra vez e outra. Blaire se colocou de pé imediatamente e correu
para sala, onde encontrou Trent se debatendo, sua expressão transtornada, a
cabeça entre as mãos:
— Trent! — ela o
chamou, sentando-se na beirada do sofá e sacudindo os ombros dele.
Ele parou
imediatamente, abrindo seus olhos e a encarando. Estava ofegante, o pânico
transfigurando seu rosto bonito. Quando a reconheceu, enlaçou sua cintura,
escondendo sua cabeça em seu colo:
— Blaire!
—
Sou eu! Estou aqui com você! — ela o envolveu com seus braços, acalmando-o.
Quando
ele se encontrou um pouco mais calmo, sentou-se ao lado dela, o rosto entre as
mãos, lutando para regularizar sua respiração.
Blaire
continuou a seu lado, agora correndo sua mão sobre as costas largas dele. Se
não estivesse tão preocupada com o estado dele, teria o admirado um pouco mais:
—
Você sonhou com a prisão? — perguntou com cautela, seu tom baixinho.
Trent
a olhou de soslaio, como se tivesse dito uma besteira:
—
Não! Eu nunca sonhei com aquele lugar! Já era pesadelo demais viver lá!
—
Com o que sonhava então?
Notou
que os ombros dele ficaram rígidos, seu maxilar tenso:
—
Eu sonho com a noite... em que eu matei meu pai! — admitiu tão baixo que ela
teve de se esforçar para ouvir.
Mas,
ao entender o que ele havia dito, ela deu um salto no sofá:
—
Trent, não fale assim! Você estava defendendo sua irmã! E tudo não passou de um
acidente! Seu pai estava tão bêbado que poderia ter causado aquilo a si
mesmo...
—
Mas foi a minha mão que o empurrou para a morte! — ele disse seco, afastando-se
para a janela.
Blaire
se manteve sentada por um momento mais, o cenho franzido. Então caminhou até
onde ele estava. Dessa vez ela não pode evitar admirar seu corpo. Não vestia a
camisa, os pés descalços. Seus braços, costas e peito estavam bem definido, com
músculos torneados. Havia tatuagens em seu corpo que que ele não possuía antes.
Eram desbotadas, mas bem-feitas. A vontade de tocá-lo a invadiu. Mas não era o
momento.
—
Eu não imaginava que pensasse assim.
—
Não imaginava que eu me sentisse culpado? — admitia, a cabeça baixa, ombros
agora retesados — Eu me sinto...
—
Não faça isso! — repreendia, tocando seu braço, por que simplesmente precisava
— Você tem de saber que foi um acidente! Eu não posso aceitar que você pense
diferente!
—
Você não estava lá, Blaire! Como pode ter toda essa confiança de que eu... —
ele se interrompeu, fitando-a ainda de lada, a cabeça ainda baixa.
—
Por que eu sinto! — ela tocou a face dele e declarou com firmeza — Eu conheço
você e sei que não seria capaz de fazer mal a uma mosca sequer!
Um
esboço de um sorriso surgiu nos lábios dele. Mas era um sorriso ainda triste. Então
ele beijou a palma da mão dela, com carinho.
Pequenos
arrepios percorreram a espinha dela e um suspiro brotou no fundo de sua
garganta. Que ela tratou de engolir.
—
Eu tenho de agradecer a Deus por ter você e Michaella na minha vida! A fé que
vocês têm em mim... faz com que nunca queira decepcioná-las!
—
Você não conseguiria! Nem se quisesse! — agora seus dedos estavam entrelaçados
e era tão bom! — Quer conversar... sobre
aquela noite? Talvez ajude...
Ela
nunca havia perguntado muito sobre o que acontecera. Não queria avivar memorias
que ele provavelmente queria deixar para trás. Mas, talvez fosse a hora de
falar e exorcizar os fantasmas.
Por
um momento, pensou que ele se recusaria. Manteve-se quieto, fitando os dedos
entrelaçados e então deixo seu olhar se perder na visão da janela.
Então
começou a falar, pausadamente:
—
Quando minha morreu... eu soube que tudo estava mudando para sempre! Não foi
com uma doença, onde nós pudéssemos nos preparar para o pior! Foi com um
atropelamento estúpido, que a tirou de nós num único golpe! Todos sofremos,
Michaella era muito apegada a ela e estava entrando em sua adolescência. Ela
precisava tanta da mãe! Mas meu pai... ele ficou devastado! Era ainda muito
apaixonado por ela, mesmo depois de tantos anos de casamento. Ele até tentou se
manter forte por um tempo. Eu sugeri que nos mudássemos... para talvez amenizar
aquela dor. Não posso dizer que funcionou, mas tornou-se mais fácil respirar
sem tantas recordações. Meu pai conseguiu um novo emprego, se esforçou... até
que se rendeu a bebida. E eu achei que era só isso! — seu tom era amargurado
agora — Eu não fazia ideia... eu... eu nunca imaginava que ele... — as palavras
se recusavam a sair de sua boca e Blaire apertou seus dedos — Michaella nunca
me disse nada! Eu notei que ela mudou, parecia assustada, mas ainda assim, não
me disse nada e não desconfiava! Quando cheguei aquele dia e vi... eu fiquei
tão enojado! — seu rosto se contorcia — Era o nosso pai e a estava tocando...
tocando como ela fosse... uma garota qualquer, que não sua filha? Eu a tirei de
lá e pretendia sumir no mundo com ela. Prometi a mim mesmo que ele nunca mais
colocaria seus olhos nela! — ele bufou — Eu até liguei, pedindo para que Erin
fugisse com a gente! Ela me chamou de louco! Disse que eu havia perdido minha
cabeça!
Blaire
se recordava daquilo. Estava ao lado da irmã, no quarto delas, quando Trent
ligou. Ele soava desesperado, mas Erin não se comoveu com isso. Na verdade, não
achava que ela sentia o mesmo amor que Trent sentia. A grande verdade, era que
desconfiava que a garota estivesse com ele por ser popular, o capitão do time
de futebol. Muito disputado entre as garotas do colégio.
Ela
suspirou. Lembrou-se da forma seca com ela desligou o telefone na cara dele.
Não conseguiu dormir mais naquela noite. Sua vontade era de ligar, oferecer
ajuda... pedir para ir junto com ele, aonde quer que fosse. Mas, ele não era
nada além de um amigo, o namorado de sua irmã...
—
Eu pretendia partir, sem ela — Trent prosseguia — Mas então o namorado que eu
nem sabia que existia da Michaella apareceu e entendeu tudo errado! Eu nem
soube o que me acertou, até acordar no hospital. Resumo, tivemos de voltar para
casa, por que os dois éramos menores de idade! Meu pai implorou por perdão e
prometeu que nada daquilo voltaria a acontecer. Michaella estava arrasada, por
que além de não confiar mais em nosso pai, havia perdido o namorado que a
acusara de muitas coisas. Vê-la daquele jeito acabava comigo! Eu só... podia
fazer companhia a ela. Meu pai deixou de beber e cheguei a ter esperanças.
Então, um dia, no aniversário de Erin... eu queira passar um pouco mais de
tempo com ela. Mas disse a Michaella que era só me ligar que eu voltaria imediatamente.
Mas ele a pegou dormindo! E a cena se repetiu! Eu vi tudo vermelho! — Trent
ficou quieto por um instante — Eu o tirei de cima dela e o empurrei. Eu nem
vi... nem que ele havia caído e se ferido. Foi Michaella quem notou. Eu tentei
socorrer, tentei.... — a respiração dele se acelerou e seu peito subia e descia
— Havia tanto sangue! Eu tirei minha camisa, coloquei sobre o ferimento dele,
tentei acordá-lo... mas ele não se movia — ele soltou seus dedos e olhava para
suas mãos, os dedos abertos — Parece que eu ainda sinto... o sangue do meu pai
nas minhas mãos... é pegajoso! E parece que nunca vai de mim! — Lagrimas
silenciosas corriam pela face dele que parecia nem notar que estava chorando.
Blaire
ficou nas pontas dos pés e envolveu seu pescoço, compartilhando de seu choro. Aquele
homem enorme estava totalmente vulnerável. Sofrido, consumido por uma culpa que
ele não tinha!
Ela
sabia qual era o final da história: um vizinho havia chamado a polícia, ao ouvirem
gritos e os policias chegaram e encontraram Trent ajoelhado, sobre o corpo do
pai, coberto com seu sangue, desnorteado, dizendo que havia acabado de matar
seu pai... E, depois disso, foram doze malditos anos de prisão injusta, sendo representado
por um maldito advogado que enganou Michaella, roubando seu dinheiro por anos,
quando Trent poderia ter tido sua liberdade há muito tempo!
Blaire
sabia da história, contada pela irmã dele. Lembrou-se quando recebeu a notícia.
Aquela madrugada nunca mais saiu da mente dela. Alguém ligou para Erin, dizendo
que Trent estava sendo preso por matar o pai. Por nenhum segundo, Blaire
acreditou naquilo! Mas sua irmã... tudo o que ela sabia era gritar como o
namorado era estúpido, que havia acabado com a vida dela! Dela? Era mesmo uma
egoísta! Depois, por estar muito nervosa, pelo motivo errado, pediu um
comprimido para dormir para a mãe dela e voltou para a cama. Blaire ficou
indignada! Disse muitos desaforos, agasalhou-se bem e rumou, no meio da noite,
para a casa de Trent.
A
polícia cercava a casa e não lhe foi permitido se aproximar. Já chorava com
louca, mas ao ver Trent sair, algemado e arrastado pelos policiais, ela
desabou. Ele tinha sua cabeça baixa, mas podia notar seu rosto molhado, seu ar
desolado. Isso acabou de quebrar o coração dela. Michaella corria atrás deles,
implorando que soltassem seu irmão. Uma mulher, provavelmente uma assistente
social a segurou. Ela esperneava muito, estrava transtornada. Um paramédico lhe
aplicou uma injeção e ela logo se aclamou, foi amparada e levada de volta para
dentro da casa. Nos dias que se seguiriam, Blaire se isolou para que pudesse
chorar sua dor. Erin a provocava, fazendo piadinhas. Sua vontade era de
estrangulá-la! Na frente de outras pessoas, se fazia de sofrida, com seu choro
fingido. Na intimidade do quarto, ela voltava a dizer que Trent havia arruinado
sua vida! Blaire senti nojo e se afastava.
Na
primeira vez que conseguiu visitar Trent, notou surpresa e uma ponta de
decepção no olhar dele. Com certeza esperava que fosse a namorada... Mas ela
nunca apareceu.
—
Me desculpe desabafar assim em cima de você... — ele dizia, afastando-se e
limpando o rosto, sem jeito.
—
Tudo bem! Eu acho que você precisava disso. Talvez se sinta mais leve.
O
jeito que Trent a encarava naquele momento! Os olhos fixos em seu rosto, a
cabeça meio de lado. Um esboço de sorriso em sua boca... O ar dela ficou preso
em seus pulmões.
—
O quê? — ela teve de perguntar, encabulada.
—
Eu só estava agradecendo mentalmente por ter você na minha vida! — e então
corria os dedos sobre os cabelos dela e seu rosto — E, me perdoe por tirar você
e seus pequenos unicórnios da cama! — dizia, apontando seu pijama.
Foi
só então que ela notou como estava vestida. Estava enfiada no pijama de
unicórnios de Bethany, sua amiga que trabalhava com ela havia lhe dado no
último aniversário. Ela revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito.
Trent estava ali, devia ter vestido algo mais... a altura dele. Talvez algo
sexy e não menininha como aquilo!
—
Droga! — balbuciou, desconfortável — Ao mesmo meus pijama ridículo te fizeram
sorrir.
—
Nada ficaria ridículo em você, Blaire! — sua voz agora era grave.
Ser
elogiada era bom! Mas ser elogiada por Trent, era muito melhor! Ainda do jeito
que as palavras saíram de sua boca naturalmente.
Ela
sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, fitando seus pés por um
instante:
—
Fala sério! Do jeito que você anda... — ela procurou por uma palavra —
sensível, você acharia atraente uma mulher vestida num saco de batata!
—
Só se essa mulher for você! — respondeu prontamente.
Blaire
mordeu o lábio e socou o ombro dele:
—
Ok, vamos fingir que eu acredito!
—
Acredite! Você se tornou uma linda mulher, Blaire!
—
Obrigada, Trent! É bom ouvir isso de vez em quando!
Ele
jogou a cabeça para trás, numa gargalhada descrente:
—
Como se você não ouvisse isso diariamente!
Revirando
os olhos, teve vontade de confessar que soava mais importante vindo da boca
dele.
—
Você mudou também... — dizia, examinando seu peito, braços e abdome trabalho —
Já era forte na época da escola, mas agora... está mais definido! — tentou não
deixar sua admiração transparecer em sua vóz, mas sabia que era quase
impossível, pois quase estava lambendo os lábios.
O
próprio Trent se examinou:
—
Bom, eu ajudava na biblioteca, mas ainda assim, sobra muito tempo ocioso. Então
eu malhava bastante.
—
Malhava? Como malhava? Havia uma academia na prisão?
—
Sim, havia. E bem equipada, posso lhe dizer.
—
Mas isso é permitido?
—
Eu não sei, mas havia muita coisa naquele lugar que não era permitido mas
existia ali. Como por exemplo, um torneio de lutas clandestinas. Por isso a
academia.
—
Torneio de lutas? Wow! Como isso é possível?
—
Os detentos eram condicionados a lutar. Os que se voluntariam e os que causavam
muitos problemas. Apesar de clandestino,
era bem organizado. E os lutadores recebiam uma certa quantia por luta, que era
enviado para suas famílias aqui fora.
—
Mas... nunca ouve denúncia sobre isso?
—
Não! Não sabe o poder do dinheiro! Com ele, tudo é possível, mesmo dentro daquele
lugar.
—
Não duvido! Com isso, quer dizer que o diretor estava completamente ciente de
tudo isso.
—
Ele era o grande organizador, na verdade. E isso já existia antes mesmo que eu
entrasse naquele lugar. Entre os presos haviam aqueles que entendiam um pouco
sobre condicionamento físico. Eu também ajudava um pouco. Tinha alguma
experiência, da época que jogava footbal... — aquilo soou nostálgico, mas ele
logo disfarçou — Sabe? Tinha gente boa no meio daquela bagunça. Caras que
fizeram besteira num momento em que perderam a cabeça... algo parecido com o
que houve comigo. Fiz amizades lá dentro que quero levar para vida toda. Se
puder ajudar um deles que seja, já me sentirei melhor! — talvez percebendo que
estava ficando emotivo, limpou a garganta e prosseguiu — Participar dessas
coisas, como o torneio, fazia com que ocupassem suas mentes.
—
Você nunca foi... forçado lutar?
—
Eu nunca me interessei e como era um bom garoto, — brincou — nunca fui forçado.
Até... — ele fez uma pausa.
—
Até?
—
Bom, tinha essa cara. Ele... sabe? A gente fica muito emotivo lá dentro,
entende? Carente. E esse sujeito, eu acho que meio que se interessou por mim...
Blaire
riu, pensando que entendia o cara:
—
Não ria! — Trent ralhou, tentando ficar sério — O que acontece é que, quando
ele notou que eu não corresponderia a suas... investidas amorosas, me desafiou
para uma luta. Então eu fui obrigado a aceitar. Senão eu ficaria marcado com um
covarde! E ser taxado como tal, não é nada bom dentro daquele lugar.
—
Mas você ganhou a luta, não é?
Trent
correu a mão pela nuca:
—
Eu apanhei bastante, mas venci sim. Eu só não contava que Michaella e você
fossem me visitar naquele fim de semana!
—
Oh, Deus! — ela colocou as mãos sobre os lábios — Aquela vez em que você estava
todo machucado!
—
Sim, essa mesma!
—
Você não nos disse nada!
—
Eu não podia! E também não queria preocupar ainda mais vocês duas.
—
Mas nós ficamos preocupadas de qualquer forma!
—
Sinto muito por isso!
—
Você... hã... — ela tinha essa pergunta em mente e nunca tivera coragem de
fazer. Mas, ele parecia tão aberto a conversar, que talvez pudesse fazê-la
agora — Já tentaram... molestar você lá dentro? — ela voltou a morder o lábio,
nervosa. Esse pensamento sempre a atormentara! Pensar que ele poderia passar
por esse tipo de coisa... fora a agonia de já estar preso a deixava desesperada
e sem conseguir dormir muitas noites — É que... bom, a agente vê essas coisas
nos filmes. Eu fiquei pensando nisso.
Ele
não pareceu surpreso com pergunta:
—
Havia isso sim. Mas, como disse, fiz grandes amizades lá dentro. A gente se
protegia. Nunca se deve ficar sozinho pelos cantos daquele inferno.
Blaire
respirou aliviada:
—
Ainda bem por isso! Me conte como conseguiu essas tatuagens? — ela examinou-as.
Havia
uma frase sob seu peito esquerdo, outra em seu pulso direito, as quais não
podia ler, devido a semiescuridão. Um falcão emaranhado em uma cobra em seu bíceps
esquerdo. Ela estendeu a mão para tocá-la. Sentiu uma corrente elétrica a
partir de seus dedos e que lhe percorreu o corpo todo. Notou que a pele dele
também de arrepiou.
—
Bom, — ele limpou a garganta antes de falar — tinha esse cara na prisão. Era
tatuador aqui fora e não queria ficar parado, para não perder o jeito. Eu não
tinha nada para fazer, então deixei que ele treinasse em mim.
—
Isso foi meio louco da sua parte, não?
—
Sim, foi. Minha sorte que ele era bom.
— Mas,
como conseguiram ter aceso ao material para tatuar?
—
Querida, como eu disse, tendo dinheiro, você consegue de tudo lá dentro!
—
O que está escrito aqui? — tocou seu peito.
—
O perigo é real. Ter medo uma escolha.
—
E aqui? — agora seus dedos estavam acariciando as palavras tatuadas no pulso
dele.
—
Depois da escuridão, haverá luz.
Ela
suspirou. Entendia o quê da escolha daquelas frases. Entendia muito bem!
—
Só fez essas?
—
Quer saber se há outras escondidas onde não posso mostrar? — ele provocava com
voz baixa.
Blaire
revirou os olhos de novo:
—
É só curiosidade, cara!
Trent
riu e ela adorava aquele som!
—
Nas costas... — ele disse, voltando-se.
Era
uma grande tatuagem de um rifle e botas em suas costas:
—
O que quer dizer isso? — as pontas de seus dedos seguiam os contornos do
desenho. Notou que os ombros dele se tornaram rijos, sus respiração entre
cortada, examinando-a com a cabeça voltava para trás. Mas isso não a fez se
deter, estava tocando Trent. Tocando suas costas largas. Sabia bem o efeito que
isso poderia causar nele, mas simplesmente não podia conter seus dedos.
—
Eu realmente não sei — seu tom era muito baixinho — Deixei que ele desenhasse.
Mas gostei do resultado...
—
É, eu também gostei — ela balbuciou. Já havia percorrido os contornos do
desenho várias vezes, mas não queria parar. Era muito bom, estar tão próxima
dele! Aspirando o cheiro de sua pele máscula. Senti-lo arrepiado a seu toque.
Os punhos cerrados como se tivesse se contendo. Não queria que ele se
segurasse.
No
silencio da noite, somente o que ouvia era a respiração pesada dele. Não
conseguia tirar sua mão dele. Sentir sua pele era tão bom!
Trent
começou a se voltar, muito devagar, encarando-a. Havia desejo em seus olhos. O
peito subia e desci, arfando. Ele tomou sua mão entre as dele e a levou aos
lábios. Sua boca encontrou a palma e ali se deteve.