segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Sempre te amei


Trenton Maxwell Tate, era tudo o que uma garota podia sonhar! Alto, cabelos num corte displicente, corpo bem definido... afinal, era o capitão do time de footbal da escola. Além disso, fiel a seus amigos e contagiava todos a sua volta com seu bom humor. Ele só tinha um defeito: era o namorado extremamente apaixonado de sua irmã mais velha!
Blaire Campbell tentou não se apaixonar por Trent, mas foi impossível, inevitável! Ela o vira primeiro, contara para sua irmã de seu interesse por ele... Mas Erin era Erin! E ela sempre queria tudo! E o pior, ela sempre conseguia tudo! Dessa forma, Blaire guardou seu amor em seu coração e aceitou ser só a amiga dele...
Mas Trent, foi preso por um assassinato, que ela sabia que ele era inocente e Erin lhe deu as costas. Foi curtir sua vida, enquanto o namorado por quem se dizia tão apaixonada, sofria numa prisão. O abandonara!  Mas Blaire nunca o faria! Estaria lá para ele por toda sua vida! Mesmo que em suas visitas ele insistisse em perguntar por sua irmã...

Trenton viu sua vida se tornar um pesadelo do dia para a noite. Para proteger sua irmã Michaella, ele precisa fugir e leva-la para longe. Mas ela é ainda menor e essa fuga é nossa única solução. Estão escondidos em um motel barato e ele tenta convencer sua garota, aquela por quem é louco, a seguir com eles. No entanto Erin está irredutível... não quer deixar sua família, seus amigos, sua vida confortável para seguir sem rumo. Trent não sabe como irá viver sem o amor de sua vida, mas também sabe que não pode mais ficar naquela cidade deixando Michaella correr risco...
Além de tudo isso, o namorado ciumento de sua irmã os encontra e entende tudo errado... Acontece que o cara é um lutador e mesmo sendo um esportista, Trent não tem chance. Ferido, precisa voltar para casa. E é quando a tragédia acontece. Ele não está totalmente recuperado, quando um acidente o leva para a prisão. Agora sua irmã está sozinha e Erin... bom, ela não quer ter seu nome associado ao de um assassino.
Seu único alento é ver que sua irmã é forte o suficiente para se erguer-se, sempre está presente e vive com o objetivo de tirá-lo da prisão... Sente-se culpada, mesmo ele dizendo o contrário.
E tem Blaire. Sua doce amiga Blaire. Quando Erin, a mulher que achou que poderia contar em todos os momentos de sua vida o abandonou, ela foi seu apoio. É linda, delicada! A visita mais frequente que tem na prisão. Fazia-lhe bem tê-la por perto. O sorriso dela iluminava seu dia. Mas quando chorava por ele estar naquele lugar... ele moveria céus e terra para retirar aquela dor de seus olhos.
Trent não vê a hora de conseguir sua liberdade, para não ver lágrimas rolarem por sua face nunca mais! E ele sente a necessidade de estar mais perto dela. De alguma forma, é em Blaire e por Blaire que ele consegue manter sua sanidade e ainda sonhar com o dia que irá sair daquele lugar maldito!
Precisa sentir melhor o cheiro do corpo dela... o que o faz lembrar dos tímidos abraços que trocam quando ela chega ou vai embora da penitenciaria.  Ele acha que está enlouquecendo quando é ela, não Erin seu último pensamento ao dormir toda noite...


1º Capítulo

Esqueça, Blaire! Ele não vai aparecer... Tentava se conformar. Trenton havia deixado o presídio havia três dias, mas ainda não a procurara. Contivera com muito afinco o impulso de correr até Martha’s Vineyard, onde ela imaginava que com certeza seria o primeiro lugar onde ele iria, para ficar com sua irmã Michaella.
Mas ele nem ao menos ligara... tinha o número dela. Dera a ele, caso precisasse de alguma coisa. Nunca recebera essa ligação. Mesmo estando em uma maldita prisão, Trenton mantinha a cabeça serena, não reclamava ou pedia algo.
A hipótese de que pudesse ter ido em busca de Erin a tomou e trouxe um aperto ao seu coração. Por que não faria isso? Perguntava-se, passando os dedos pelos cabelos, exasperada. Era sua namorada na época em que fora preso. Ele nunca mais tocara no nome dela. No entanto sabia que ainda era apaixonado por sua irmã. Mesmo que ela nunca o tenha visitado.  Não se podia mandar no coração e a própria Blaire era uma amostra viva disso.
Suspirando, pegou a xícara onde tomava um chá, de cima da mesinha de centro e levou-a para a cozinha. Depositou-a na pia, espalmou suas mãos no mármore gelado e bufou. Devia ligar? Mas para onde ligaria? Com certeza ele não tinha um aparelho celular! Assim sendo, o certo seria ligar para Michaella...
Não! Definitivamente não ligaria! Não podia sair correndo assim atrás dele! Se quisesse encontra-la, não seria complicado. A irmã dele sabia sua direção. E, imagina ligar e descobrir que ele não aparecera, por que correra para Nova Iorque atrás de Erin? Não precisava disso!
Com essa decisão, pegou o aparelho telefônico da parede e ligou para a pizzaria. Não era muito fã de pizza de calabresa, mas se viu pedindo aquela... era o sabor que Trenton mais gostava. A qual sempre pedia quando assistia a jogos na casa dela. Também não era muito fã de footbol americano, Erin menos ainda, mas era um jeito de passar um tempo ao lado dele. E às vezes até rolava um abraço de comemoração... Ok, isso era patético, até para ela: mendigar abraços! Mas era muito bom quando acontecia. Ficava com o cheiro dele em sua roupa por todo o dia.
Abriu uma garrafa de vinho tinto e ergueu a taça num brinde solitário:
— A sua liberdade, Trent! — murmurou.
A grande verdade era que estava muito feliz com a soltura dele. Muito mesmo! Ainda que não a procurasse por hora. E se ele não o fizesse, ela acabaria fazendo. Sempre fora assim, por que mudaria agora?
Estava em seu terceiro e generoso gole quando a campainha soou, fazendo-a quase engasgar com a bebida. Seria já a pizza? Bom, se fosse, estavam entregando em tempo recorde.
Vestia um legging rosa e um blusão de lã marrom e meias brancas. Não ia se calçar só para atender a porta!
Pegou a bolsa no balcão e dela retirou sua carteira. A campainha soou de novo e ela gritou de volta:
— Já estou indo!
Escancarou a porta, já abrindo a carteira e dela já pegava a quantia que costumeiramente pagava pela iguaria, enquanto dizia:
— O mesmo valor de sempre?
— Hum, eu não sei... depende de o que você quer comprar de mim!
A carteira dela escorreu de suas mãos e ela deu um salto para trás. Depois levou as mãos aos lábios e as lágrimas imediatamente subiram a seus olhos.  Não era outro senão Trent parado a sua porta. Tinha um sorriso no rosto e uma mochila num dos ombros.
No instante seguinte estava voando para os braços abertos dele:
— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! – se via repetindo junto, pendurada no pescoço dele! — É você!
Trent absorveu o cheiro dos cabelos dela. Era muito bom! O mesmo que ficava impregnado nas narinas dele, quando se despediam no presídio:
— Sim, sou eu, Blaire!
Ela se afastou um instante, tomando o rosto dele entre as mãos, os enormes olhos azuis perscrutando sua face:
— Sim! É você! — então o abraçava de novo.
Era muito bom ter Blaire em seus braços, agora em liberdade. Podia desfrutar plenamente, calmamente do afago. Aqueles breves momentos em que a tinha nos braços, eram o que o relaxavam, toda noite, quando ia dormir. A imagem do rosto dela lhe trazia a paz que precisava.
Porém, junte doze anos sem uma mulher, e então ter aquelas curvas coladas ao seu corpo... Bom, uma vergonhosa ereção não foi difícil de acontecer. Por isso, para não assustar sua doce amiga, Trent manteve certa distancia. Por sorte, o jeans era bem justo, segurando seu amiguinho no lugar. Blaire estava perto, os seios colados ao seu peito. Um atentado a sua castidade forçada. 
Então ela se afastava, sem graça, enxugando as lágrimas e ele ajudou, correndo os polegares por suas faces rosadas:
— Desculpe-me... eu só... eu não esperava te ver... tão cedo!
Trent parou de enxugar seu rosto e franziu o cenho:
— Como assim? Achou... achou que eu não viria te ver? — parecia incrédulo.
Ela mordeu o lábio inferior e começou a apertar os dedos, os estalando, os olhos enormes o encarando:
— Bom, eu achei... — melhor não citar Erin naquele momento — que desejasse passar um tempo com sua irmã.
— Eu o fiz. Mas, queria muito te ver!— disse suavemente, seus olhos pousando no ombro que a blusa caída deixava nu. Seus níveis de testosterona deviam estar mesmo muito altos, por que uma vontade insana de sentir o gosto daquela pele o assaltou, fazendo seu pau quase arrebentar o zíper da calça. “Controle-se, homem! ”. Repreendia-se. Engoliu em seco, temendo que ela notasse seu... bom, seu estado. Limpou a garganta, antes de falar, pois senão, sua voz sairia rouca e falha — E fora daquele lugar!
O sorriso que foi crescendo na face delicada, suas graciosas covinhas aparecendo, fazendo seu coração e peito se inflar. Era tão linda!
Blaire suspirou e deixou uma mão correr pelo peito dele. Era impressão dela, ou ele estava bem malhado?
— É tão bom te ver sem aquele... macacão laranja ridículo! — ela revirou os olhos — Eu nunca te disse, mas você não fica bem com aquela cor!
Trent riu e olhou para sua roupa:
— Fique tranquila! Eu não pretendo usa-la nunca mais na minha vida! — afirmava.
Blaire sentiu as lágrimas voltarem a seus olhos e correu para abraçar a cintura dele de novo, recostando a cabeça em seu peito:
— Eu não acredito que você está aqui! — sussurrou.
Ele também a envolvia nos braços, deixando a mochila escorregar para o chão, encostando sua cabeça no topo da cabeça dela:
— Eu precisava ver a garota linda, que nunca me abandonou! — beijou a testa dela e foi descendo, pelo nariz afilado e então acariciava sua face, com um sorriso tênue nos lábios.
Mas, então ela o fitava, quase que com adoração. Sua boca bem feita, que aos poucos deixava de sorrir e se entreabria. Os olhos se tornando nublados.
Viu-se dando um beijo quase casto em seus lábios. E outro e outro. Então ela corria a língua por eles, como se para absorver seu sabor. Trent não resistiu e, curvando a cabeça de lado, tomando o rosto dela entre as mãos, beijou-a novamente. A princípio eram beijos curtos, inseguros.  
Então ela segurou seus pulsos, a boca entreaberta, a sua espera. Trent não resistiu. Apossou-se com gula, buscando sua língua, empurrando-a contra a parede ao lado da porta. Colocou uma coxa entre as dela e já não fazia mais questão de esconder sua ereção. Aprofundou ainda mais o beijo quando ela gemeu baixinho, arqueando os quadris para ele.
Envolveu sua cintura, absorvendo o gosto da boca dela, um misto de vinho e... Blaire. Era um sabor único, com o qual sonhara noites seguidas. Sugou sua língua, depois a invadia e ela fazia o mesmo com a sua.
Suas mãos desceram para o bumbum macio, puxando-a, quase lhe tirando os pés do chão.
Porra! Estava a ponto de explodir, como um maldito virgem! Bom, era como se o tivesse voltado a ser. E, seria fácil despir aquela blusa dela, explorar os seios soltos, com suas mãos, sua boca...
Mas, aquela era Blaire. Devia conter sua tara!
Dessa forma, e, muito contra a vontade, deixou os lábios dela, vagarosamente e encostou a testa na dela de novo, ofegante:
— Me desculpe. Acho... que me empolguei um pouco no cumprimento...
Blaire sorriu, divertida, um tanto sem graça, baixando seu olhar, por um instante:
— Nós nos empolgamos!
Ela não parecia arrependida do acontecido. Só um pouco tímida, talvez. Agora fitava sua boca com olhos semicerrados e até deslizou o polegar por eles. Trent o sugou para dentro de sua boca, fazendo-a prender e respiração. Ele o libertou lentamente, observando as reações dela:
— Melhor não me provocar, Blaire! — ameaçava baixinho — Lembre-se: estou há dozes anos sem uma mulher.
Um novo gemido abafado escapou dos lábios dela, eriçando os pelos de sua nuca:
— Uau! Doze anos! — exclamou, também baixinho.
Ele riu da reação dela:
—Como se você não soubesse! Onde eu estava só tinha homens! E eu, com certeza absoluta, só gosto de mulheres! — seus olhos baixaram para os seios, constatando que, de fato ela não usava sutiã. Notou que os mamilos se tornaram ainda mais visíveis sob seu olhar. Teve de conter a muito custo, o ímpeto de tocá-los com seus dedos e depois os provar com a boca.
— Você deve estar...
— Sedento? — completou por ela e então sorriu de lado — É... um pouco! Na verdade muito! — se corrigia, revirando os olhos.
Blaire queria se beliscar para ter certeza de que era mesmo Trent, diante dela olhando-a como uma presa que adoraria saborear. Ah, se ele tentasse! Com certeza absoluta no mundo, não se oporia. O beijo que haviam trocado! Fora um sonho! Fez toda a espera valer a pena. Mas ela queria mais.
Tocou a face dele, o corpo muito próximo:
— Pobrezinho! — mordendo o lábio, os olhos baixos, sugestivos.
Trent prendeu a respiração. Afastou as mãos dela com delicadeza e deu dois passos atrás, até estar andando pela sala:
— Oh, Blaire! Não me olhe assim! — depois que já estava a certa distancia dela, cruzou os dedos atrás da nuca — Não sou de ferro, garota! E, eu acabei de sair daquela jaula! Estamos com muitas saudades um do outro...
Blaire o olhou de soslaio, franzindo a testa:
— O que quero dizer, é que tenho medo de que estejamos misturando as coisas. Não quero estragar a amizade temos, entende?
Ela riu e abaixou-se para recolher sua carteira do chão, para que ele não visse a pontada de decepção que brilhava em seus olhos. Parecia que voltara ao posto de amiga!
— Fique tranquilo, Trent! — então dava de ombro, de forma graciosa e sensual — Eu não vou atacar você!
Agora era ele quem ria, baixinho, rouco, espalmando as mãos na cintura:
— Meu medo é justamente do contrário, grandes olhos azuis!
— Hey, eu estou tentando me controlar e você diz isso?
Ele comprimiu os lábios, despindo a jaqueta jeans, dobrou-a e a colocou na poltrona ao lado:
— Ok! Não digo mais nada... por enquanto.
— Então, — ela se sentava e indicava o lugar a seu lado no sofá para que ele se acomodasse — falemos de amenidades. Como está sendo esses dias, aqui fora?
Ele ficou pensativo:
— Olha...assustador, seria a palavra! Depois de tanto tempo de prisão, é estranho ter sua liberdade de volta. Acredite, eu ainda estou tentando me acostumar com a ideia...  de que sou um homem livre!
Os olhos de Blaire se turvaram novamente. Quando pensava em tudo o que ele havia passado, pagando por um crime que não era culpado! Ela segurou a mão dele e a apertou:
— Eu posso imaginar! Mas, estou aqui e sempre poderá contar comigo!
— Eu sei disso, Blaire! — dizia, agradecido — Se uma coisa da qual eu tenho certeza nesse mundo, é que posso contar com Michaella e você!
Ele sorriu e então retirava o celular do bolso frontal de sua calça, tendo de fazer umas manobras com seu corpo para isso. Os olhos dela passearam por suas coxas fortes... e um pouco mais para cima. Parece que ainda não havia... se acalmado de todo. Blaire teve de morder o lábio, bem forte, para conter seu desejo de pular no colo dele.
— E tem isso aqui! Um verdadeiro bicho de se te cabeças para mim! Um celular moderno que Michaella me deu — mostrava o aparelho — Eu confesso que ainda estou apanhando muito com ele! Faz de tudo, inclusive ligações!
Ela riu:
— Você aprende rápido, vai ver. E, como foi voltar para sua cidade?
Trent suspirou. O braço dela estava estendido no encosto do sofá. Ele ergueu o seu, alcançou a mão dela e infiltrou seus dedos sob a blusa dela, acariciando seu braço, distribuindo arrepios pelo corpo dela.
— Não foi fácil! Cada canto tinha uma lembrança... de algo que eu não gostaria de recordar.
Blaire se perguntou se Erin era uma delas.
— Que merda!
— E, por isso, eu decidi que definitivamente não quero voltar a viver em Martha’s!
— E para onde pensa ir?
Trent olhou a volta, pensativo:
— Eu não sei! O que me diz de Boston? — sugeria.
Um sorriso largo surgia na boca rosada e seus olhos brilharam. Porra, ela era linda! A vontade de a beijar o assaltou de novo, com força.
— Está pensando em vir para cá? — “Eu amaria!” Poderia ter dito — Bom, eu amo esse lugar! Aqui eu fiz o meu futuro, com minha confeitaria. Oportunidades para você não faltaram!
— Bom, isso é um ponto questionável... — ele dizia, uma mão coçando a nuca — Lembre-se que eu... não tenho formação em nada!
Blaire sentiu o coração se apertar. Recordou-se que ele pretendia iniciar a faculdade de fisioterapia, anos atrás, se não fosse... toda aquela desgraça.
— É... isso... — teve de limpar a garganta, para que sua voz não soasse trêmula — complica um pouco mais.
— Ella me deu uma quantia, digamos... muito boa! É o dinheiro que o advogado roubou dela, todos esses anos — notou que ele contraia o maxilar — Quando penso nisso... — fechava os olhos e respirava fundo.
— Eu soube! Sua irmã me contou, num telefonema. Se eu encontrar esse advogado na minha frente, eu chuto as bolas dele!
— Eu as arrancaria! — ele balbuciou, entredentes.
Nesse instante a campainha soou. Blaire pulou do sofá, batendo palmas:
— Eu acho que é algo do que você pode gostar muito!
Trent franziu o cenho, confuso.
— Espere bem aqui! — indicava, recuperando sua carteira e indo rumo a porta.
Logo voltava com a caixa de pizza e o cheiro tomava o lugar:
— Eu não sei se você já teve um encontro com uma dessas desde que voltou, mas eu adoraria que sua primeira vez fosse comigo! — dizia, erguendo a tampa e movendo suas grossas sobrancelhas repetidamente de forma sugestiva..
— Bom Deus! — Trent se colocava de pé, esfregando as mãos — Eu estou salivando aqui! E, não, eu não tinha experimentado uma dessas, desde que sai!
— É isso aí, cara! — Blaire depositou a caixa na mesa e foi buscar pratos e talheres — Eu não tenho cervejas, mas tenho um ótimo vinho — apontava para a garrafa esquecida sobre o balcão — Que acha?
— Que vinho está perfeito! — ele alcançou os pratos os serviu e aguardou por ela.
Assim que Blaire se aproximou, lhe estendeu a garrafa de vinho e taças que ele encheu. Depois, Trent puxou a cadeira para que se sentasse. No entanto, antes que pudesse provar do líquido, ela ergueu sua taça:
— A sua liberdade, Trent! — ela repetia o brinde de momentos atrás, agora com um sorriso nos lábios.
Ele lhe endereçou uma piscadela rápida e tocou com seu copo no dela e provou enfim do liquido escuro:
— Bom? — ela perguntava.
— Muito bom! — agora, dispensando os talheres, ele pegou seu pedaço de pizza do prato e deu uma generosa mordida e em seguida fechou os olhos, gemendo de deleite.
Aquele som... fez com que Blaire prendesse a respiração por alguns segundos. Era um som deliciosamente sexy[PR1] .
Ela esqueceu-se de comer, observando-o. Ele atacava a massa com gula, mas de um jeito másculo, o corpo grande curvado sobre a mesa, soltando pequenos grunhidos ao mastigar. Não conteve um sorriso.
Trent a encarou e levou um guardanapo a boca, meio constrangido:
— Desculpe por meus modos! Devo parecer um animal, atacando a comida dessa forma!
— Que nada! Estou feliz que esteja apreciando — enfim provava e sua pizza.
Comeram em silencio por alguns minutos. Mas, então, ela não pode conter a curiosidade:
— Você viu Erin?
Arrependeu-se da pergunta logo em seguida. Não sabia nem por que aquilo havia escapado de sua boca! Ele fechou o cenho, tomando um longo gole de seu vinho:
— Por que eu o faria?
— Bom... ela foi sua garota... — baixava a cabeça.
— Ela nunca me visitou! — dizia de forma dura — Ela deixou de ser... qualquer coisa para mim, no momento em que fui preso! — sua frase terminou com amargura.
Trent estava tentando, duramente não pensar em sua ex. Ela não era digna de seus pensamentos. Em doze longos anos de distância, Erin nunca, nenhuma única vez sequer, tentara fazer qualquer tipo de contato. Fora um duro golpe. Era louco por ela! Sonhava se casar com a garota! Não foi fácil aceitar sua rejeição e esquecê-la... Não sabia como se portaria, se um dia a reencontrasse. A magoa que ainda sentia, era grande. Mas, temia sua reação a presença dela. Erin tivera um grande poder sobre ele, no passado. Não seria justo sucumbir de novo. Por tal razão, não fazia questão alguma de vê-la.
— Como ela está? — viu-se perguntando, contra gosto.
Blaire limpou a garganta, esfregando as mãos sobre o colo:
— Está bem... eu acho. Não temos muito contato também. Ela está em Nova Iorque, tentando a carreira de modelo.
— Entendo...
Erin devia continuar tão bonita quanto se lembrava. Tinha um rosto de boneca e um corpo feito para o pecado. Sexo nunca fora um problema entre eles. Ela era quente, insaciável, destemida. Quando queria sexo, não havia o que pudesse impedi-la. Fosse no banco de trás do carro, na beira da estrada, num trocador de uma loja, cinema...
Ele meneou a cabeça. Maldição! Por que estava pensando tudo aquilo, justo agora? E ainda mais, na presença de Blaire?
— Me perdoe por trazê-la à tona! — sua amiga se martirizava — Você não gostou! Foi uma idiotice da minha parte...
— Tudo bem, Blaire! — ele segurou sua mão sobre a mesa, apertando seus dedos — Esse assunto uma hora surgiria.
Blaire forçou um sorriso. Era muito óbvio que Trent, mesmo após todos aqueles anos, ainda era afetado por sua irmã. Por fora tão imbecil de tocar no nome dela? Por que precisava saber o que ele sentia pela ex! Sabia o quanto ele fora louco por Erin. E, temia que se um dia houvesse um reencontro, ele esquece toda magoa e... eles bem podiam voltar.
— Bom! — ele se levantava, levando seu copo e prato para a pia — Minha visita já se estendeu muito! E eu ainda preciso procurar por um hotel...
— Você não fez reservas?
— Não. Eu vim do aeroporto direto para cá — quando ela parou a seu lado, ele colocou alguns fios de cabelo dela atrás de sua orelha, fitando-a com ternura — Eu queria mesmo te ver!
E lá estavam as covinhas que ele adorava! Não resistiu e as tocou com a ponta do polegar.
— Eu fico feliz com isso! — Blaire corava — E, como agradecimento, eu posso te abrigar por essa noite!
— Não precisa se incomodar, Blaire...
— Não é incomodo! Não posso deixar você solto a essa hora da noite, numa cidade que não conhece, com o frio que está fazendo lá fora! Não tenho um quarto de hóspedes, mas meu sofá é muito confortável... — ela indicava, do meio da sala.
Ele riu:
— Quem você fez dormir aí?
— Ninguém, seu bobo! Eu mesma já acabei adormecendo nele, depois de algumas maratonas de séries. E sempre acordei inteira. Claro! — ela apontava para ele todo — Você é mais grande que eu... Mas, creio que vá sobreviver.
— Bebê, depois de doze anos dormindo naquilo que eles chamavam de cama no presídio, seu sofá vai me parecer uma cama king size de luxo! Dormiria até no seu balcão ali! — apontava para a cozinha.
O coração dela doía a cada lembrança do lugar onde ele estivera nos últimos anos. Revirando os olhos, caminhou para seu quarto:
— Ok. Eu vou pegar cobertores, lençóis...
Logo ela retornava carregada e Trent ficou a observá-la, quieto. Blaire era muito graciosa. Quando adolescente, já era uma linda garota, com sua pela clara, grandes olhos azuis e lábios cheios e rosados. Tinha um estilo largado na época, vestindo sempre jeans e camisetas folgadas. Tanto que quando a viu num sumário biquíni, quando chegou de surpresa num domingo na casa dos pais dela, em torno da piscina, ele quase ficou em choque. Ela era magra, mas tinha curvas. Suas pernas eram longas, torneadas, seios fartos para a idade dela... Tinha de admitir que a imagem não lhe sairá mais da cabeça. 
Quando ela o notou, correu se cobrir, deixando a piscina. Parecia encabulada. Se ela imaginasse que passara dias fantasiando com seu belo corpo... E por isso, a culpa o havia tomado, por que era praticamente sua cunhada. E ele era fiel e apaixonado por Erin. Mas nunca conseguira enxergar Blaire da mesma maneira. Antes ela era uma amiga amorosa, carinhosa, que ele gostava de ter a sua volta. Depois, se tornou uma bela garota a qual gostava de olhar.
— Agora você tem uma confortável cama a sua espera! — dizia ela, ao terminar de forrar o sofá com um lençol e posicionar o travesseiro — Ou mais ou menos isso — dava de ombros para sua arrumação.
— Está ótimo, Blaire — ele se acomodou numa poltrona para descalçar suas botas.
Encontrou um sorriso doce no rosto bonito dela, que o fez caminhar até onde estava, parando bem próximo. Ela levou uma mão ao seu rosto, parecendo emocionada:
— Estou tão feliz que esteja aqui, Trent! Não pode imaginar o quanto! — e então depositava um beijo suave me sua boca e se afastava — Espero que tenha uma boa noite...
Depois que ela entrou em seu quarto, Trent deslizou a língua sobre os lábios. Desejava absorver o sabor dela. Não podia negar que desejava mais beijos como o que trocaram a momentos atrás, preferia desfrutar da cama dela, de seu belo corpo. Sentia muita falta de um toque feminino e Blaire era perfeita para dar fim a sua abstinência... Mas ela era Blaire, sua amiga, aquela que nunca a abandonara. Nunca correria o risco de machuca-la, de qualquer forma!

Blaire se recostou na porta fechada de seu quarto. O sorriso em seus lábios cada vez mais largo.
Trent estava livre! Trent estava em seu apartamento e a beijara! Ele a beijara, como um homem beija uma mulher! Oh, Deus, ela esperara tanto tempo por aquele beijo!
O ímpeto de abrir aquela porta e se jogar novamente em seus braços era quase incontrolável. Mas, precisava ter calma. Talvez sua chance estivesse chegando e ela não podia se precipitar. Se ele ficasse em Boston, tudo ficaria mais fácil. E ela faria de tudo para tê-lo só para ela. Seu amor por só havia crescido durante todos esses anos. Não era inocente a ponto de achar que era retribuída. Por hora, Trent estava apenas carente. E ela estaria por perto para... bom, para ajudá-lo nessa questão. Sorriu, mordendo o lábio inferior, sentindo-se quente, os seios doloridos, seu sexo úmido e sensível. Como o desejava! Mas, queria mais que o corpo dele. Queria seu coração. Por isso, faria tudo do jeito certo e com calma. Sem Erin por perto, sentia-se mais segura de que conquistaria o amor de Trenton Maxwell Tate!

















2 Capítulo


Blaire acordou na madrugada com a impressão de que ouvira gritos. Abriu os olhos e ficou atenta. Podia ter sido um sonho...
Mas o grito agoniado se repetiu. E outra vez e outra. Blaire se colocou de pé imediatamente e correu para sala, onde encontrou Trent se debatendo, sua expressão transtornada, a cabeça entre as mãos:
— Trent! — ela o chamou, sentando-se na beirada do sofá e sacudindo os ombros dele.
Ele parou imediatamente, abrindo seus olhos e a encarando. Estava ofegante, o pânico transfigurando seu rosto bonito. Quando a reconheceu, enlaçou sua cintura, escondendo sua cabeça em seu colo:
— Blaire!
— Sou eu! Estou aqui com você! — ela o envolveu com seus braços, acalmando-o.
Quando ele se encontrou um pouco mais calmo, sentou-se ao lado dela, o rosto entre as mãos, lutando para regularizar sua respiração.
Blaire continuou a seu lado, agora correndo sua mão sobre as costas largas dele. Se não estivesse tão preocupada com o estado dele, teria o admirado um pouco mais:
— Você sonhou com a prisão? — perguntou com cautela, seu tom baixinho.
Trent a olhou de soslaio, como se tivesse dito uma besteira:
— Não! Eu nunca sonhei com aquele lugar! Já era pesadelo demais viver lá!
— Com o que sonhava então?
Notou que os ombros dele ficaram rígidos, seu maxilar tenso:
— Eu sonho com a noite... em que eu matei meu pai! — admitiu tão baixo que ela teve de se esforçar para ouvir.
Mas, ao entender o que ele havia dito, ela deu um salto no sofá:
— Trent, não fale assim! Você estava defendendo sua irmã! E tudo não passou de um acidente! Seu pai estava tão bêbado que poderia ter causado aquilo a si mesmo...
— Mas foi a minha mão que o empurrou para a morte! — ele disse seco, afastando-se para a janela.
Blaire se manteve sentada por um momento mais, o cenho franzido. Então caminhou até onde ele estava. Dessa vez ela não pode evitar admirar seu corpo. Não vestia a camisa, os pés descalços. Seus braços, costas e peito estavam bem definido, com músculos torneados. Havia tatuagens em seu corpo que que ele não possuía antes. Eram desbotadas, mas bem-feitas. A vontade de tocá-lo a invadiu. Mas não era o momento.
— Eu não imaginava que pensasse assim.
— Não imaginava que eu me sentisse culpado? — admitia, a cabeça baixa, ombros agora retesados — Eu me sinto...
— Não faça isso! — repreendia, tocando seu braço, por que simplesmente precisava — Você tem de saber que foi um acidente! Eu não posso aceitar que você pense diferente!
— Você não estava lá, Blaire! Como pode ter toda essa confiança de que eu... — ele se interrompeu, fitando-a ainda de lada, a cabeça ainda baixa.
— Por que eu sinto! — ela tocou a face dele e declarou com firmeza — Eu conheço você e sei que não seria capaz de fazer mal a uma mosca sequer!
Um esboço de um sorriso surgiu nos lábios dele. Mas era um sorriso ainda triste. Então ele beijou a palma da mão dela, com carinho.
Pequenos arrepios percorreram a espinha dela e um suspiro brotou no fundo de sua garganta. Que ela tratou de engolir.
— Eu tenho de agradecer a Deus por ter você e Michaella na minha vida! A fé que vocês têm em mim... faz com que nunca queira decepcioná-las!
— Você não conseguiria! Nem se quisesse! — agora seus dedos estavam entrelaçados e era tão bom! —  Quer conversar... sobre aquela noite? Talvez ajude...
Ela nunca havia perguntado muito sobre o que acontecera. Não queria avivar memorias que ele provavelmente queria deixar para trás. Mas, talvez fosse a hora de falar e exorcizar os fantasmas.
Por um momento, pensou que ele se recusaria. Manteve-se quieto, fitando os dedos entrelaçados e então deixo seu olhar se perder na visão da janela. 
Então começou a falar, pausadamente:
— Quando minha morreu... eu soube que tudo estava mudando para sempre! Não foi com uma doença, onde nós pudéssemos nos preparar para o pior! Foi com um atropelamento estúpido, que a tirou de nós num único golpe! Todos sofremos, Michaella era muito apegada a ela e estava entrando em sua adolescência. Ela precisava tanta da mãe! Mas meu pai... ele ficou devastado! Era ainda muito apaixonado por ela, mesmo depois de tantos anos de casamento. Ele até tentou se manter forte por um tempo. Eu sugeri que nos mudássemos... para talvez amenizar aquela dor. Não posso dizer que funcionou, mas tornou-se mais fácil respirar sem tantas recordações. Meu pai conseguiu um novo emprego, se esforçou... até que se rendeu a bebida. E eu achei que era só isso! — seu tom era amargurado agora — Eu não fazia ideia... eu... eu nunca imaginava que ele... — as palavras se recusavam a sair de sua boca e Blaire apertou seus dedos — Michaella nunca me disse nada! Eu notei que ela mudou, parecia assustada, mas ainda assim, não me disse nada e não desconfiava! Quando cheguei aquele dia e vi... eu fiquei tão enojado! — seu rosto se contorcia — Era o nosso pai e a estava tocando... tocando como ela fosse... uma garota qualquer, que não sua filha? Eu a tirei de lá e pretendia sumir no mundo com ela. Prometi a mim mesmo que ele nunca mais colocaria seus olhos nela! — ele bufou — Eu até liguei, pedindo para que Erin fugisse com a gente! Ela me chamou de louco! Disse que eu havia perdido minha cabeça!
Blaire se recordava daquilo. Estava ao lado da irmã, no quarto delas, quando Trent ligou. Ele soava desesperado, mas Erin não se comoveu com isso. Na verdade, não achava que ela sentia o mesmo amor que Trent sentia. A grande verdade, era que desconfiava que a garota estivesse com ele por ser popular, o capitão do time de futebol. Muito disputado entre as garotas do colégio.
Ela suspirou. Lembrou-se da forma seca com ela desligou o telefone na cara dele. Não conseguiu dormir mais naquela noite. Sua vontade era de ligar, oferecer ajuda... pedir para ir junto com ele, aonde quer que fosse. Mas, ele não era nada além de um amigo, o namorado de sua irmã...
— Eu pretendia partir, sem ela — Trent prosseguia — Mas então o namorado que eu nem sabia que existia da Michaella apareceu e entendeu tudo errado! Eu nem soube o que me acertou, até acordar no hospital. Resumo, tivemos de voltar para casa, por que os dois éramos menores de idade! Meu pai implorou por perdão e prometeu que nada daquilo voltaria a acontecer. Michaella estava arrasada, por que além de não confiar mais em nosso pai, havia perdido o namorado que a acusara de muitas coisas. Vê-la daquele jeito acabava comigo! Eu só... podia fazer companhia a ela. Meu pai deixou de beber e cheguei a ter esperanças. Então, um dia, no aniversário de Erin... eu queira passar um pouco mais de tempo com ela. Mas disse a Michaella que era só me ligar que eu voltaria imediatamente. Mas ele a pegou dormindo! E a cena se repetiu! Eu vi tudo vermelho! — Trent ficou quieto por um instante — Eu o tirei de cima dela e o empurrei. Eu nem vi... nem que ele havia caído e se ferido. Foi Michaella quem notou. Eu tentei socorrer, tentei.... — a respiração dele se acelerou e seu peito subia e descia — Havia tanto sangue! Eu tirei minha camisa, coloquei sobre o ferimento dele, tentei acordá-lo... mas ele não se movia — ele soltou seus dedos e olhava para suas mãos, os dedos abertos — Parece que eu ainda sinto... o sangue do meu pai nas minhas mãos... é pegajoso! E parece que nunca vai de mim! — Lagrimas silenciosas corriam pela face dele que parecia nem notar que estava chorando.
Blaire ficou nas pontas dos pés e envolveu seu pescoço, compartilhando de seu choro. Aquele homem enorme estava totalmente vulnerável. Sofrido, consumido por uma culpa que ele não tinha!
Ela sabia qual era o final da história: um vizinho havia chamado a polícia, ao ouvirem gritos e os policias chegaram e encontraram Trent ajoelhado, sobre o corpo do pai, coberto com seu sangue, desnorteado, dizendo que havia acabado de matar seu pai... E, depois disso, foram doze malditos anos de prisão injusta, sendo representado por um maldito advogado que enganou Michaella, roubando seu dinheiro por anos, quando Trent poderia ter tido sua liberdade há muito tempo!
Blaire sabia da história, contada pela irmã dele. Lembrou-se quando recebeu a notícia. Aquela madrugada nunca mais saiu da mente dela. Alguém ligou para Erin, dizendo que Trent estava sendo preso por matar o pai. Por nenhum segundo, Blaire acreditou naquilo! Mas sua irmã... tudo o que ela sabia era gritar como o namorado era estúpido, que havia acabado com a vida dela! Dela? Era mesmo uma egoísta! Depois, por estar muito nervosa, pelo motivo errado, pediu um comprimido para dormir para a mãe dela e voltou para a cama. Blaire ficou indignada! Disse muitos desaforos, agasalhou-se bem e rumou, no meio da noite, para a casa de Trent.
A polícia cercava a casa e não lhe foi permitido se aproximar. Já chorava com louca, mas ao ver Trent sair, algemado e arrastado pelos policiais, ela desabou. Ele tinha sua cabeça baixa, mas podia notar seu rosto molhado, seu ar desolado. Isso acabou de quebrar o coração dela. Michaella corria atrás deles, implorando que soltassem seu irmão. Uma mulher, provavelmente uma assistente social a segurou. Ela esperneava muito, estrava transtornada. Um paramédico lhe aplicou uma injeção e ela logo se aclamou, foi amparada e levada de volta para dentro da casa. Nos dias que se seguiriam, Blaire se isolou para que pudesse chorar sua dor. Erin a provocava, fazendo piadinhas. Sua vontade era de estrangulá-la! Na frente de outras pessoas, se fazia de sofrida, com seu choro fingido. Na intimidade do quarto, ela voltava a dizer que Trent havia arruinado sua vida! Blaire senti nojo e se afastava.
Na primeira vez que conseguiu visitar Trent, notou surpresa e uma ponta de decepção no olhar dele. Com certeza esperava que fosse a namorada... Mas ela nunca apareceu.
— Me desculpe desabafar assim em cima de você... — ele dizia, afastando-se e limpando o rosto, sem jeito.
— Tudo bem! Eu acho que você precisava disso. Talvez se sinta mais leve.
O jeito que Trent a encarava naquele momento! Os olhos fixos em seu rosto, a cabeça meio de lado. Um esboço de sorriso em sua boca... O ar dela ficou preso em seus pulmões.
— O quê? — ela teve de perguntar, encabulada.
— Eu só estava agradecendo mentalmente por ter você na minha vida! — e então corria os dedos sobre os cabelos dela e seu rosto — E, me perdoe por tirar você e seus pequenos unicórnios da cama! — dizia, apontando seu pijama.
Foi só então que ela notou como estava vestida. Estava enfiada no pijama de unicórnios de Bethany, sua amiga que trabalhava com ela havia lhe dado no último aniversário. Ela revirou os olhos e cruzou os braços sobre o peito. Trent estava ali, devia ter vestido algo mais... a altura dele. Talvez algo sexy e não menininha como aquilo!
— Droga! — balbuciou, desconfortável — Ao mesmo meus pijama ridículo te fizeram sorrir.
— Nada ficaria ridículo em você, Blaire! — sua voz agora era grave.
Ser elogiada era bom! Mas ser elogiada por Trent, era muito melhor! Ainda do jeito que as palavras saíram de sua boca naturalmente.
Ela sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, fitando seus pés por um instante:
— Fala sério! Do jeito que você anda... — ela procurou por uma palavra — sensível, você acharia atraente uma mulher vestida num saco de batata!
— Só se essa mulher for você! — respondeu prontamente.
Blaire mordeu o lábio e socou o ombro dele:
— Ok, vamos fingir que eu acredito!
— Acredite! Você se tornou uma linda mulher, Blaire!
— Obrigada, Trent! É bom ouvir isso de vez em quando!
Ele jogou a cabeça para trás, numa gargalhada descrente:
— Como se você não ouvisse isso diariamente!
Revirando os olhos, teve vontade de confessar que soava mais importante vindo da boca dele.
— Você mudou também... — dizia, examinando seu peito, braços e abdome trabalho — Já era forte na época da escola, mas agora... está mais definido! — tentou não deixar sua admiração transparecer em sua vóz, mas sabia que era quase impossível, pois quase estava lambendo os lábios.
O próprio Trent se examinou:
— Bom, eu ajudava na biblioteca, mas ainda assim, sobra muito tempo ocioso. Então eu malhava bastante.
— Malhava? Como malhava? Havia uma academia na prisão?
— Sim, havia. E bem equipada, posso lhe dizer.
— Mas isso é permitido?
— Eu não sei, mas havia muita coisa naquele lugar que não era permitido mas existia ali. Como por exemplo, um torneio de lutas clandestinas. Por isso a academia.
— Torneio de lutas? Wow! Como isso é possível?
— Os detentos eram condicionados a lutar. Os que se voluntariam e os que causavam muitos problemas.  Apesar de clandestino, era bem organizado. E os lutadores recebiam uma certa quantia por luta, que era enviado para suas famílias aqui fora.
— Mas... nunca ouve denúncia sobre isso?
— Não! Não sabe o poder do dinheiro! Com ele, tudo é possível, mesmo dentro daquele lugar.
— Não duvido! Com isso, quer dizer que o diretor estava completamente ciente de tudo isso.
— Ele era o grande organizador, na verdade. E isso já existia antes mesmo que eu entrasse naquele lugar. Entre os presos haviam aqueles que entendiam um pouco sobre condicionamento físico. Eu também ajudava um pouco. Tinha alguma experiência, da época que jogava footbal... — aquilo soou nostálgico, mas ele logo disfarçou — Sabe? Tinha gente boa no meio daquela bagunça. Caras que fizeram besteira num momento em que perderam a cabeça... algo parecido com o que houve comigo. Fiz amizades lá dentro que quero levar para vida toda. Se puder ajudar um deles que seja, já me sentirei melhor! — talvez percebendo que estava ficando emotivo, limpou a garganta e prosseguiu — Participar dessas coisas, como o torneio, fazia com que ocupassem suas mentes.
— Você nunca foi... forçado lutar?
— Eu nunca me interessei e como era um bom garoto, — brincou — nunca fui forçado. Até... — ele fez uma pausa.
— Até?
— Bom, tinha essa cara. Ele... sabe? A gente fica muito emotivo lá dentro, entende? Carente. E esse sujeito, eu acho que meio que se interessou por mim...
Blaire riu, pensando que entendia o cara:
— Não ria! — Trent ralhou, tentando ficar sério — O que acontece é que, quando ele notou que eu não corresponderia a suas... investidas amorosas, me desafiou para uma luta. Então eu fui obrigado a aceitar. Senão eu ficaria marcado com um covarde! E ser taxado como tal, não é nada bom dentro daquele lugar.
— Mas você ganhou a luta, não é?
Trent correu a mão pela nuca:
— Eu apanhei bastante, mas venci sim. Eu só não contava que Michaella e você fossem me visitar naquele fim de semana!
— Oh, Deus! — ela colocou as mãos sobre os lábios — Aquela vez em que você estava todo machucado!
— Sim, essa mesma!
— Você não nos disse nada!
— Eu não podia! E também não queria preocupar ainda mais vocês duas.
— Mas nós ficamos preocupadas de qualquer forma!
— Sinto muito por isso!
— Você... hã... — ela tinha essa pergunta em mente e nunca tivera coragem de fazer. Mas, ele parecia tão aberto a conversar, que talvez pudesse fazê-la agora — Já tentaram... molestar você lá dentro? — ela voltou a morder o lábio, nervosa. Esse pensamento sempre a atormentara! Pensar que ele poderia passar por esse tipo de coisa... fora a agonia de já estar preso a deixava desesperada e sem conseguir dormir muitas noites — É que... bom, a agente vê essas coisas nos filmes. Eu fiquei pensando nisso.
Ele não pareceu surpreso com pergunta:
— Havia isso sim. Mas, como disse, fiz grandes amizades lá dentro. A gente se protegia. Nunca se deve ficar sozinho pelos cantos daquele inferno.
Blaire respirou aliviada:
— Ainda bem por isso! Me conte como conseguiu essas tatuagens? — ela examinou-as.
Havia uma frase sob seu peito esquerdo, outra em seu pulso direito, as quais não podia ler, devido a semiescuridão. Um falcão emaranhado em uma cobra em seu bíceps esquerdo. Ela estendeu a mão para tocá-la. Sentiu uma corrente elétrica a partir de seus dedos e que lhe percorreu o corpo todo. Notou que a pele dele também de arrepiou.
— Bom, — ele limpou a garganta antes de falar — tinha esse cara na prisão. Era tatuador aqui fora e não queria ficar parado, para não perder o jeito. Eu não tinha nada para fazer, então deixei que ele treinasse em mim.
— Isso foi meio louco da sua parte, não?
— Sim, foi. Minha sorte que ele era bom.
— Mas, como conseguiram ter aceso ao material para tatuar?
— Querida, como eu disse, tendo dinheiro, você consegue de tudo lá dentro!
— O que está escrito aqui? — tocou seu peito.
— O perigo é real. Ter medo uma escolha.
— E aqui? — agora seus dedos estavam acariciando as palavras tatuadas no pulso dele.
— Depois da escuridão, haverá luz.
Ela suspirou. Entendia o quê da escolha daquelas frases. Entendia muito bem!
— Só fez essas?
— Quer saber se há outras escondidas onde não posso mostrar? — ele provocava com voz baixa.
Blaire revirou os olhos de novo:
— É só curiosidade, cara!
Trent riu e ela adorava aquele som!
— Nas costas... — ele disse, voltando-se.
Era uma grande tatuagem de um rifle e botas em suas costas:
— O que quer dizer isso? — as pontas de seus dedos seguiam os contornos do desenho. Notou que os ombros dele se tornaram rijos, sus respiração entre cortada, examinando-a com a cabeça voltava para trás. Mas isso não a fez se deter, estava tocando Trent. Tocando suas costas largas. Sabia bem o efeito que isso poderia causar nele, mas simplesmente não podia conter seus dedos.
— Eu realmente não sei — seu tom era muito baixinho — Deixei que ele desenhasse. Mas gostei do resultado...
— É, eu também gostei — ela balbuciou. Já havia percorrido os contornos do desenho várias vezes, mas não queria parar. Era muito bom, estar tão próxima dele! Aspirando o cheiro de sua pele máscula. Senti-lo arrepiado a seu toque. Os punhos cerrados como se tivesse se contendo. Não queria que ele se segurasse.
No silencio da noite, somente o que ouvia era a respiração pesada dele. Não conseguia tirar sua mão dele. Sentir sua pele era tão bom!
Trent começou a se voltar, muito devagar, encarando-a. Havia desejo em seus olhos. O peito subia e desci, arfando. Ele tomou sua mão entre as dele e a levou aos lábios. Sua boca encontrou a palma e ali se deteve.